Ninguém estranhe. Vou misturar as coisas todas nesta manhã segundeira, pós o dia de “ver Deus em meio ao seu povo” e o “povo ao redor de seu Deus”. Depois de uma semana de luta pela manutenção dos lugares ocupados. Estou há um tempo assim, ruminando umas coisas na cabeça. Tudo muito misturado e intenso. Há duas semanas, recebi a informação da comemoração dos 140 anos da presença batista no Brasil. Lembrei imediatamente como as pessoas ligadas às instituições podem ser tão previsíveis e demoníacas (no sentido grego de dáimom). Quando ainda estudava teologia em Campos, era notório que a história dos batistas iniciava na Bahia. Não sei como chegou nas minhas mãos o livro de Betty Antunes de Oliveira[1], “Centelha em restolho seco”. Era um trabalho bem documentado, cheio de novidades, batido em uma máquina de escrever e em edição da própria autora. Isso porquê ninguém das instituições batistas de então achou importante – ou certo - publicar o texto da Betty. Agora, anos depois, e com a igreja de Salvador vivendo para o pentecostalismo, segundo eles, os 140 anos dos batistas será institucionalmente comemorado, vejam só, em Santa Bárbara D’Oeste, como apontava nossa querida irmã Betty.
Lendo Isaías 40, não pude deixar de me identificar com o texto no momento que o profeta - como qualquer profeta, homem ou mulher, de vez em quando faz- compelido a clamar pela “voz”, pergunta “Que hei de clamar? Toda carne é erva, e toda a sua beleza, como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o povo é erva”. Na verdade, eu sou erva. E tudo às vezes parece inútil e efêmero demais. Sei que a maioria de minhas colegas acredita que é inútil lutar na via institucional. Entendo. Sei que muitas acham um desgaste de energia desnecessário, porque, como disse Caetano Veloso, “Sou de uma geração politizada, ativista. Eu próprio desejava me despolitizar, explicar aos outros que nem tudo é política...sei que a [..]política vivida coletivamente pode trazer desconforto”. Além de acreditar que engajamento não é algo para um cristão. Entendo também, mas não posso concordar. Apesar de ocupar um lugar privilegiado, de respeito, dentro e fora da comunidade de fé, essa luta diária para avançar fica muito mais pesada sem a ajuda das instituições denominacionais a que pertencemos. Às vezes, no enfrentamento com elas, faz com que eu devolva a pergunta da “voz” que me pede para clamar, com a resposta “Que hei de clamar? Se tudo é inútil e o fim é a morte? Não sei até quando suportarei o silenciamento institucional sobre a realidade denominacional das pastoras, operado por nossas instituições – CBB, Jornal Batista, UFMBB, etc? Mas até quando devemos conviver com o silenciamento de minhas colegas?
Não é anticristão fazer um pouco de barulho. No versículo 9 do mesmo texto de Isaías, a “voz” continua: “Tu, anunciador de Boas novas a Sião, sobe tu a um monte alto[...] levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas...” Não causará divisão ser porta-voz da denúncia desse silenciamento que só tem desagradado líderes e igrejas que desejam avançar na obra do ministério. Ou será somente eu a perceber essa tentativa de apagamento, pela omissão de nossos nomes e de nossa presença nas igrejas batistas brasileiras, como um artifício institucional para tentar impedir a consumação e o avanço dessa realidade entre o povo batista? Mais de 150 ordenações femininas legítimas em 11 anos desde a primeira, não pode ser considerado, em sã consciência, como algo mínimo. E não existem mais oficialmente, justamente por sonegação de informação e lobby de alguns setores da ordem de pastores. Nesse mês de agosto, participei do concílio examinador de mais uma candidata aqui no Rio de Janeiro. Foi maravilhoso perceber, como há 11 anos, na PIB em Campo Limpo, como a igreja tem compreendido e investido nas vocações pastorais, independente se de homens ou mulheres, participando corajosamente do processo de ordená-las para o ministério batista do início ao final do processo. A irmã Miriam, hoje, pastora Miriam de Lira Moraes Fernandes tem uma história e tanto para contar. História pessoal que fica obscurecida pela história maior de sua comunidade local. Se eu pudesse, visitaria cada uma das pastoras para, frente a frente, falar da importância de levantar a voz para além da vida de sua comunidade de fé batista. Somos todas pioneiras que não podem se descuidar do fato de que aquilo que Deus tem feito conosco, e em nossas histórias pessoais, está ajudando a construir uma nova realidade denominacional. Não podemos nos calar diante desse desafio que está posto para a nossa geração. Tenho fé no futuro em que este movimento entre investir no ministério local e levantar a bandeira diante das instituições batistas, não será mais uma necessidade. Mas agora ainda é. Falo igualmente para as missionárias, mulheres líderes que poderiam nos ajudar a passar mais rapidamente por esse processo, abençoando as vidas de vocacionadas ao ministério da palavra e às igrejas batistas que abraçam essa mesma convicção. Muitos pastores têm proclamado, junto comigo e com a Pra. Zenilda Reggiane Cintra, a possibilidade do ministério pastoral exercido por mulheres. Muitos deles têm atendido ao convite de igrejas para a realização de concílios examinadores de candidatas; muitos deles têm escrito sobre o tema, convidado para pregar em suas comunidades e utilizado um discurso em que a presença de pastoras já é uma realidade. A esses muitos, obrigada e obrigada. Quero, no entanto, suplicar as irmãs e colegas pastoras que levantem suas vozes, anunciem seus nomes e suas histórias, compartilhem suas caminhadas. Esse blog é um espaço de visibilidade importante e eu suplico sua participação. Mas também suplico que a irmã se organize para estar presente na assembléia da Convenção em janeiro próximo. Vamos até lá sem medo, mas vamos com ousadia. Ousadia profética e ousadia oriunda da certeza de que a nossa força vem do Senhor. Meu nome é Silvia. Meu sobrenome é Nogueira. Tenho nome e sobrenome. Sou pastora batista com um megafone nas mãos, debaixo da graça de Deus.
Lendo Isaías 40, não pude deixar de me identificar com o texto no momento que o profeta - como qualquer profeta, homem ou mulher, de vez em quando faz- compelido a clamar pela “voz”, pergunta “Que hei de clamar? Toda carne é erva, e toda a sua beleza, como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o povo é erva”. Na verdade, eu sou erva. E tudo às vezes parece inútil e efêmero demais. Sei que a maioria de minhas colegas acredita que é inútil lutar na via institucional. Entendo. Sei que muitas acham um desgaste de energia desnecessário, porque, como disse Caetano Veloso, “Sou de uma geração politizada, ativista. Eu próprio desejava me despolitizar, explicar aos outros que nem tudo é política...sei que a [..]política vivida coletivamente pode trazer desconforto”. Além de acreditar que engajamento não é algo para um cristão. Entendo também, mas não posso concordar. Apesar de ocupar um lugar privilegiado, de respeito, dentro e fora da comunidade de fé, essa luta diária para avançar fica muito mais pesada sem a ajuda das instituições denominacionais a que pertencemos. Às vezes, no enfrentamento com elas, faz com que eu devolva a pergunta da “voz” que me pede para clamar, com a resposta “Que hei de clamar? Se tudo é inútil e o fim é a morte? Não sei até quando suportarei o silenciamento institucional sobre a realidade denominacional das pastoras, operado por nossas instituições – CBB, Jornal Batista, UFMBB, etc? Mas até quando devemos conviver com o silenciamento de minhas colegas?
Não é anticristão fazer um pouco de barulho. No versículo 9 do mesmo texto de Isaías, a “voz” continua: “Tu, anunciador de Boas novas a Sião, sobe tu a um monte alto[...] levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas...” Não causará divisão ser porta-voz da denúncia desse silenciamento que só tem desagradado líderes e igrejas que desejam avançar na obra do ministério. Ou será somente eu a perceber essa tentativa de apagamento, pela omissão de nossos nomes e de nossa presença nas igrejas batistas brasileiras, como um artifício institucional para tentar impedir a consumação e o avanço dessa realidade entre o povo batista? Mais de 150 ordenações femininas legítimas em 11 anos desde a primeira, não pode ser considerado, em sã consciência, como algo mínimo. E não existem mais oficialmente, justamente por sonegação de informação e lobby de alguns setores da ordem de pastores. Nesse mês de agosto, participei do concílio examinador de mais uma candidata aqui no Rio de Janeiro. Foi maravilhoso perceber, como há 11 anos, na PIB em Campo Limpo, como a igreja tem compreendido e investido nas vocações pastorais, independente se de homens ou mulheres, participando corajosamente do processo de ordená-las para o ministério batista do início ao final do processo. A irmã Miriam, hoje, pastora Miriam de Lira Moraes Fernandes tem uma história e tanto para contar. História pessoal que fica obscurecida pela história maior de sua comunidade local. Se eu pudesse, visitaria cada uma das pastoras para, frente a frente, falar da importância de levantar a voz para além da vida de sua comunidade de fé batista. Somos todas pioneiras que não podem se descuidar do fato de que aquilo que Deus tem feito conosco, e em nossas histórias pessoais, está ajudando a construir uma nova realidade denominacional. Não podemos nos calar diante desse desafio que está posto para a nossa geração. Tenho fé no futuro em que este movimento entre investir no ministério local e levantar a bandeira diante das instituições batistas, não será mais uma necessidade. Mas agora ainda é. Falo igualmente para as missionárias, mulheres líderes que poderiam nos ajudar a passar mais rapidamente por esse processo, abençoando as vidas de vocacionadas ao ministério da palavra e às igrejas batistas que abraçam essa mesma convicção. Muitos pastores têm proclamado, junto comigo e com a Pra. Zenilda Reggiane Cintra, a possibilidade do ministério pastoral exercido por mulheres. Muitos deles têm atendido ao convite de igrejas para a realização de concílios examinadores de candidatas; muitos deles têm escrito sobre o tema, convidado para pregar em suas comunidades e utilizado um discurso em que a presença de pastoras já é uma realidade. A esses muitos, obrigada e obrigada. Quero, no entanto, suplicar as irmãs e colegas pastoras que levantem suas vozes, anunciem seus nomes e suas histórias, compartilhem suas caminhadas. Esse blog é um espaço de visibilidade importante e eu suplico sua participação. Mas também suplico que a irmã se organize para estar presente na assembléia da Convenção em janeiro próximo. Vamos até lá sem medo, mas vamos com ousadia. Ousadia profética e ousadia oriunda da certeza de que a nossa força vem do Senhor. Meu nome é Silvia. Meu sobrenome é Nogueira. Tenho nome e sobrenome. Sou pastora batista com um megafone nas mãos, debaixo da graça de Deus.
[1] Veja os links : http://www.pibrj.org.br/historia/arquivos/Tese-Alberto-Kenji-Yamabuchi.pdf e http://www.pibrj.org.br/historia/arquivos/UmaVozParadoxal.pdf