Imagino que a expectativa do povo
batista na 92ª assembléia da CBB seja para a mais recente “menina dos olhos”, o
projeto missionário “Cristolândia”. E tem mesmo motivos para isso, já que os
viciados em crack são os mais recentes párias sociais. Além disso, evangelizar
é um imperativo cristológico. Agora, é importante também lembrar do que de fato
compreende a obra evangelizadora, isto é, é pregar a mensagem cristã
apaixonadamente, mas também ensinar as virtudes cristãs e aperfeiçoar no
convívio eclesiásticos uns aos outros com os dons que o Espírito nos deu. É uma
volta que estou dando para dizer que outros temas são igualmente importantes
para a celebração do evangelho na sua plenitude. Eu não estarei este ano na
assembléia, nem no encontro de articulação das pastoras e acho importante dizer
o porquê. Estou na direção pedagógica de um Seminário Batista que está em
transição de endereço no Rio de Janeiro e é impossível uma viagem nesse
momento. Seminário, inclusive, que tem formado homens e mulheres para o
ministério Batista em igrejas ou nos campos missionários.
Eu não gostaria de perder o
encontro com as mulheres em ministérios e (talvez) outro embate com algum membro
mais aguerrido da ordem dos pastores nos bastidores da assembléia, como no ano
passado. Acredito que a Pra. Zenilda e as outras colegas farão algo
significativo nesse encontro. Até porque o Kairós[1] da
ordenação de mulheres ao ministério pastoral entre os Batistas brasileiros é tão
consumado que talvez agora só precisemos de uma mudança de espírito.
Tenho uma lembrança querida do
dia do meu concílio em 1999. No meio daquela cena toda dos representantes da
CBESP e da ordem, vi meus pais ajoelhados na congregação da PIB em Campo Limpo.
Fui na direção deles preocupada, já que meu pai é um senhor de 80 anos. Quando
cheguei próximo, percebi que minha mãe orava em voz alta pedindo a Deus que
desse àqueles senhores, pelo menos, um espírito como o de Gamaliel (At 5,34-39).
Mais tarde percebi a seriedade da oração também sobre minha vida, já que o
texto dizia claramente que se não fosse de Deus, o tempo faria o sepultamento
de homens e idéias. Sim, é de Deus. Testifico da minha vocação por toda igreja
batista pela qual passo e na minha caminhada no Reino. Meus pais celebram cada
etapa dessa história e também testificam positivamente do meu ministério. E as
outras? As que sabemos e as que não sabemos? E as igrejas que não possuem
pastoras, mas que realizam intercâmbio, convidam, celebram, testificam
igualmente as vocações? Vejo nisso a consumação da obra evangelizadora dos
batistas.
Penso que talvez agora seja a
hora de uma oração que conclame a um novo espírito entre nós, pastoras, e
igrejas que convivem com essa realidade, e a liderança da ordem dos pastores do
Brasil. Que esses irmãos, ó Senhor, tenham o mesmo espírito que houve em Maria,
sua serva. Mesmo não enxergando tudo, mesmo não compreendendo tudo, abriu-se
para o Mistério. Aquilo que Deus faz geralmente está envolto em Mistério. É
preciso apenas responder com temor e tremor: “eis aqui o servo do Senhor”!
Uma abençoada assembléia!
Pastora Silvia Nogueira
[1] Kairós
não é somente uma experiência cronológica, mas também qualitativa e
revolucionaria. O Kairós inaugura uma nova perspectiva na relação que se tem
com Deus ou na revelação que Ele faz para as pessoas. O kairós é um convite a
uma “nova” e geralmente vibrante experiência de fé.