Pra. Silvia Nogueira
O que representa para as pastoras o pertencimento à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil diante de tantas questões e tarefas mais necessárias e urgentes? Essa é uma pergunta que ouço com certa constância. E, de fato, diante do cotidiano desafio missionário, do cuidado pastoral com pessoas sob nossa responsabilidade na comunidade, diante da vivência cristã relevante no mundo, das respostas evangélicas às tensões do nosso tempo e das desastrosas consequências sociais da degradação do planeta, o pertencimento a OPBB é uma questão menor. No entanto, é algo que tem se constituído de uma forma que não é mais possível ignorar como uma necessidade na relação igreja batista-vocacionado-CBB. Para ser clara, colocarei os “poderes” em seus devidos lugares.
Primeiro, ninguém – e é ninguém mesmo- pode arbitrar se uma pessoa, mulher ou homem, recebeu um dom do Espírito Santo, já que para os puristas está escrito literalmente que o Espírito Santo o faz como quer, a quem quer[1]. Isso por si só deveria encerrar qualquer discussão sobre essa questão, mas por séculos não tem sido esse o sábio caminho.
Segundo, no caso dos batistas brasileiros, se por um lado não se pode arbitrar sobre a quem Deus dá ou não dá dons, por outro, podemos e devemos reconhecer a vocação de uma pessoa, mulher ou homem, na vivência comunitária. Sim, porque é para servir em ministério eclesiástico que o Espírito Santo confere dons. Logo, a igreja deve reconhecer a vocação alegada pelo irmão ou irmã. Eis aí uma das mais belas manifestações da coletividade evangélica, já que é ela quem reconhece, legitima, abriga e mobiliza o ministério do vocacionado(a). Nisso repousa minha crença inabalável de que o pastorado batista é legitimado não por pastores, mas por igrejas. Daí a nulidade de uma carteira da ordem de pastores para ser pastor(a) e exercer o ministério.
Terceiro, para os mais preocupados com a tradição denominacional, é importante compreender que a CBB, na pessoa de sua diretoria e executivos, e mais, a assembleia da CBB, jamais fará coisa alguma que desabone a soberania e autonomia das igrejas locais, sobretudo, na questão dos ministérios ordenados. Então, se alguém espera um comunicado oficial, através de uma espécie de decreto para que a partir da data tal as igrejas filiadas possam ordenar mulheres ao ministério pastoral, vai ficar esperando ou se resguardando de agir nessa espera.
E a Ordem, como ela fica nessa relação Igreja-vocacionado(a)-CBB? Acredito que essa é a pergunta do momento. A Ordem não é um sindicato de profissionais do ministério pastoral batista, ela não é uma representação das igrejas batistas, já que muitos pastores e quase a totalidade das pastoras não são filiados à ela[2]. O que ela é, ou melhor, tem sido? Uma convidada das igrejas para participar de um momento sempre emocionante nessa relação Igreja-vocacionado(a). Percebam que não entro no mérito do porquê a atual ordem é resistente (a maioria simples, mas não unânime)[3] e proíba novas filiações de pastoras. O que na verdade faz com que o pertencimento das pastoras à Ordem se transforme em uma necessidade histórica da qual é importante um aggiornamento? porque esse grupo de cavalheiros tem se interposto negativamente na relação Igreja -vocacionado(a)-CBB. Quando uma igreja batista filiada à CBB convoca um concílio e, segundo sua tradição, e não por necessidade[4], quer seguir as recomendações da CBB[5] e emite um convite à Ordem ela aguarda ser atendida. No entanto, tem havido uma recomendação, se oficial, não sei, com “ameaça”, de que tipo, não sei, que tem impedido os filiados de atenderem tranqüilamente ao convite das igrejas. E mais, quando para a Ordem somente é pastor batista quem possui uma carteira da Ordem e, ao mesmo tempo, desencoraja, para dizer o mínimo, os seus filiados a atender a convocação da igreja, ela deliberadamente se interpõe nessa relação. Em resumo, a ordem tem dificultado, até em muitos casos, inviabilizado, o exame tradicional recomendado pela CBB de candidatas ao ministério da Palavra. Ou seja, a OPBB, lamentavelmente, está interferindo no exercício sagrado da vocação. Quem fez com que a filiação à Ordem se transformasse, portanto, em uma necessidade para as pastoras foi a própria ordem. Logo, se é uma necessidade, bateremos insistentemente, até que a porta abra[6]. A ordenação feminina, como todo processo histórico segue, tem etapas e é preciso cumprí-las. A de agora, diz respeito à visibilidade institucional necessária as vocações despertadas e assumidas publicamente há 11 anos. Caso não haja um reposicionamento da Ordem em aceitar o ingresso e a liberação dos filiados na participação conciliar quando convidados pelas igrejas, não significará um retrocesso no avanço das ordenações femininas no Brasil Batista. Graças a Deus, o processo não é visível nos meios oficiais, mas é pujante e irreversível. A Ordem chega atrasada nesse processo no qual ela é coadjuvante por tradição, mas que diz respeito especialmente e legitimamente a Deus-vocacionado(a)-Igreja. O que esperamos dela, sobretudo a partir de sua diretoria e executivo, é que acolha mulheres e homens a quem Deus chamou e igrejas batistas reconheceram em suas vocações. Gentil, mas firmemente, lhes peço, revejam a decisão de Cuiabá e preparem-se para realmente dialogar como colegas de ministério que somos.
[1] Mesmo com a discussão bíblica superada, vale a pena observar o texto de 1Co 12 e 13 em confronto com 1Co 14,34-37. É importante, ainda, apontar para uma necessidade urgente de retificar o texto da Declaração doutrinária da CBB no item Ministério da Palavra. A presença da frase “Deus escolhe, chama ...certos homens...” , provoca confusão interpretativa do texto bíblico acima. O correto seria o que apresenta o sumário do livreto “Exame e consagração ao ministério pastoral” que diz: “exame da pessoa candidata”.
[2] Segundo o executivo da ordem de pastores Batistas do Brasil, Pr. Juracy Baía, existem 9400 pastores cadastrados, em 2010, sem contar as mais de 130 pastoras, mas o número de filiados com carteira são 8300. Resumindo, há mais de 1230 pastores batistas que não são filiados à ordem.
[3] Existe um grupo significativo de pastores que entende da mesma forma que nós, pastoras, o papel da Ordem e que estão dispostos ao dialogo e ao ingresso de suas colegas. O que temos percebido, salvo engano, é que as diretorias ao longo do caminho, cristalizaram o seu pensamento e não estão realmente dispostas a permitir novos ingressos. E é essa diretoria que tem fomentado um discurso de divisão, seja se não forem prestigiados em suas convicções pelos seus pares, seja na proposta absurda de criação de uma ordem de pastoras.
[4] Segundo o 2ºparágrafo da pagina 11 do livreto exame e consagração ao ministério pastoral. E ainda, na pagina 12: “As igrejas filiadas à CBB decidem, através destas recomendações, seguir princípios que estimulem os melhores procedimentos na realização de concílios”. SOUZA, Sócrates(org.). Exame e consagração ao ministério pastoral. Rio de Janeiro:Convicção, 2009.
[5] As recomendações, segundo o mesmo texto, entre outros quesitos, são o convite à Ordem e a presença de pastores filiados.
[6] A porta dos fundos, das laterais ou da frente, contanto, que abra.
Seu texto é muito sábio, insuperável para os de boa vontade. O Ordem não pode inverter as coisas. Aliás, o próprio nome é anti-batista - nós não somos ordenados, pois não somos sacerdotes levitas. A igreja é o corpo e esses departamentos o que fazem é favorecer interesses locais de alguns caciques. Esses tais tentam manter um governo centralizado - algo nada natural para nós, batistas. Na minha opinião, e eu sou radical nisto, a Ordem dos Pastores deveria ser desconstituída... deveria deixar de existir.
ResponderExcluirMarcelo
João Pessoa-PB
Quando pensamos, em ordem, logo vem em nossa mente desordem. Acredito, que uma associação que ainda no seculo XXI se comporta da maneira como a OPBB, causa me nós tristeza e lamento. Eu não sei até quando vamos viver essa agrura, o que sei é que dificil aceitar os argumentos que os prezados pastores colocam nos foruns de debates, respeito eles não tem nem pelo proprio codigo de etica pastoral criado por eles mesmos para ajudarem a dirimir as questões. Lementável.
ResponderExcluirCada vez mais me convenso de que uma Ordem mista deveria ser criada , deveríamos ensiná-los a fazer a coisa certa.
A controvérsia da ordenação feminina ao ministério pastoral na CBB, vem desde de 1976, e é impressionante que em 2011 as mulheres vocacionadas por Deus ainda estejam encontrando esse tipo de entrave para viver de maneira saudável a sua vocação ministerial. Silvia Regina, brinda a cada um de nós com um texto provocativo que convida a um repensar de posturas na busca de um projeto mais igualitário para os homens e mulheres chamados por Deus coletivamente para seu serviço.
ResponderExcluirLouvo a Deus pela oportunidade de discordar do texto em questão, o que favorece o espírito democrático. A busca por dizer que estamos no século XXI e que portanto precisamos abrir espaço para algo que nunca ocorreu (ordenação feminina) não é um argumento válido. Alguém poderia dizer que estamos no sec.XXI e ainda há gente que acredita que Jesus morreu para os salvar. Esse argumento é muito fraco.
ResponderExcluirÉ preciso observar a Bíblia, não os tempos. A Bíblia levou cerca de 1500 anos para ser concluída, e a liderança tanto de Israel como da Igreja no Novo Testamento sempre coube a homens. O que dizer de 1 Coríntios 11.1-16, ou 1 Coríntios 14.34,35?
Podemos considerar tudo cultural, e assim, outras coisas consideramos culturais para sujeitá-las aos nossos interesses. Podemos forçar interpretações, com vistas a atender nossos anseios. Mas a Palavra continua lá, como foi escrita. Quer aceitemos ou não. Concordo com a OPBB.
Concordo com opinião Batista
Excluir