terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quando eu pensava em desistir

Você já deve ter passado por isso. Nadar, nadar, nadar e sentir a força indo embora dos músculos, a fadiga tomar conta do corpo e o cérebro, em nome da sobrevivência, enviar um sms para o braço esticar imediatamente para o lugar seguro mais próximo - a boia ou a borda do barco.
Minha última postagem foi, de certa forma, uma última braçada nessa questão institucional. Creio mesmo que outras vozes, além da minha, devem ser ouvidas - e com muito mais frequencia. Então, queridos, no meio dos meus emails chega a notícia de mais uma ordenação feminina- essa com visibilidade maior do que as duas que aconteceram recentemente no Rio de Janeiro. E que alegria saber que a PIB de São José dos Campos tem agora a Pra. Léa Apse Paes entre o seu corpo pastoral.
Que o processo de ordenação de mulheres ao pastorado batista é pujante e irreversível  tenho dito há muito tempo e todas as vezes que posso- e essa ordenação em São Paulo, como as do Rio de Janeiro e em outros estados em 2011 é a comprovação do meu discurso.
Será que agora teremos mais visibilidade? será que agora a integração à ordem de pastores e a realização de concílios denominacionais e as referências a nossa existencia nas publicações institucionais e da UFMBB será viável e sem turbulências?
Oxalá seja! Afinal, para a liderança batista, "avanço"  tem tudo a ver com igrejas grandes e líderes renomados. Por mim, tudo bem. Com esse gás, acho que vou conseguir dar mais algumas braçadas até as cataratas de Foz de Iguaçu.
A Deus, toda Glória!
Pra. Silvia Nogueira

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mulheres com nomes


Ninguém estranhe. Vou misturar as coisas todas nesta manhã segundeira, pós o dia de “ver Deus em meio ao seu povo” e o “povo ao redor de seu Deus”. Depois de uma semana de luta pela manutenção dos lugares ocupados. Estou há um tempo assim, ruminando umas coisas na cabeça. Tudo muito misturado e intenso. Há duas semanas, recebi a informação da comemoração dos 140 anos da presença batista no Brasil. Lembrei imediatamente como as pessoas ligadas às instituições podem ser tão previsíveis e demoníacas (no sentido grego de dáimom). Quando ainda estudava teologia em Campos, era notório que a história dos batistas iniciava na Bahia. Não sei como chegou nas minhas mãos o livro de Betty Antunes de Oliveira[1], “Centelha em restolho seco”. Era um trabalho bem documentado, cheio de novidades, batido em uma máquina de escrever e em edição da própria autora. Isso porquê ninguém das instituições batistas de então achou importante – ou certo - publicar o texto da Betty. Agora, anos depois, e com a igreja de Salvador vivendo para o pentecostalismo, segundo eles, os 140 anos dos batistas será institucionalmente comemorado, vejam só, em Santa Bárbara D’Oeste, como apontava nossa querida irmã Betty. 
Lendo Isaías 40, não pude deixar de me identificar com o texto no momento que o profeta - como qualquer profeta, homem ou mulher, de vez em quando faz- compelido a clamar pela “voz”, pergunta “Que hei de clamar? Toda carne é erva, e toda  a sua beleza, como as flores do campo. Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor. Na verdade, o povo é erva”. Na verdade, eu sou erva. E tudo às vezes parece inútil e efêmero demais. Sei que a maioria de minhas colegas acredita que é inútil lutar na via institucional. Entendo. Sei que muitas acham um desgaste de energia desnecessário, porque, como disse Caetano Veloso, “Sou de uma geração politizada, ativista. Eu próprio desejava me despolitizar, explicar aos outros que nem tudo é política...sei que a [..]política vivida coletivamente pode trazer desconforto”. Além de acreditar que engajamento não é algo para um cristão. Entendo também, mas não posso concordar. Apesar de ocupar um lugar privilegiado, de respeito, dentro e fora da comunidade de fé, essa luta diária para avançar fica muito mais pesada sem a ajuda das instituições denominacionais a que pertencemos.  Às vezes, no enfrentamento com elas, faz com que eu devolva a pergunta da “voz” que me pede para clamar, com a resposta “Que hei de clamar? Se tudo é inútil e o fim é a morte? Não sei até quando suportarei o silenciamento institucional sobre a realidade denominacional das pastoras, operado por nossas instituições – CBB, Jornal Batista, UFMBB, etc? Mas até quando devemos conviver com o silenciamento de minhas colegas? 
Não é anticristão fazer um pouco de barulho. No versículo 9 do mesmo texto de Isaías, a “voz” continua: “Tu, anunciador de Boas novas a Sião, sobe tu a um monte alto[...] levanta a tua voz fortemente; levanta-a, não temas...” Não causará divisão ser porta-voz da denúncia desse silenciamento que só tem desagradado líderes e igrejas que desejam avançar na obra do ministério. Ou será somente eu a perceber essa tentativa de apagamento, pela omissão de nossos nomes  e de nossa presença nas igrejas batistas brasileiras, como um artifício institucional para tentar impedir a consumação e o avanço dessa realidade entre o povo batista? Mais de 150 ordenações femininas legítimas em 11 anos desde a primeira, não pode ser considerado, em sã consciência, como algo mínimo. E não existem mais oficialmente, justamente por sonegação de informação e lobby de alguns setores da ordem de pastores. Nesse mês de agosto, participei do concílio examinador de mais uma candidata aqui no Rio de Janeiro. Foi maravilhoso perceber, como há 11 anos, na PIB em Campo Limpo, como a igreja tem compreendido e investido nas vocações pastorais, independente se de homens ou mulheres, participando corajosamente do processo de ordená-las para o ministério batista do início ao final do processo. A irmã Miriam, hoje, pastora Miriam de Lira Moraes Fernandes tem uma história e tanto para contar. História pessoal que fica obscurecida pela história maior de sua comunidade local. Se eu pudesse, visitaria cada uma das pastoras para, frente a frente, falar da importância de levantar a voz para além da vida de sua comunidade de fé batista. Somos todas pioneiras que não podem se descuidar do fato de que aquilo que Deus tem feito conosco, e em nossas histórias pessoais, está ajudando a construir uma nova realidade denominacional. Não podemos nos calar diante desse desafio que está posto para a nossa geração. Tenho fé no futuro em que este movimento entre investir no ministério local e levantar a bandeira diante das instituições batistas, não será mais uma necessidade. Mas agora ainda é. Falo igualmente para as missionárias, mulheres líderes que poderiam nos ajudar a passar mais rapidamente por esse processo, abençoando as vidas de vocacionadas ao ministério da palavra e às igrejas batistas que abraçam essa mesma convicção. Muitos pastores têm proclamado, junto comigo e com a Pra. Zenilda Reggiane Cintra, a possibilidade do ministério pastoral exercido por mulheres. Muitos deles têm atendido ao convite de igrejas para a realização de concílios examinadores de candidatas; muitos deles têm escrito sobre o tema, convidado para pregar em suas comunidades e utilizado um discurso em que a presença de pastoras já é uma realidade. A esses muitos, obrigada e obrigada. Quero, no entanto, suplicar as irmãs e colegas pastoras que levantem suas vozes, anunciem seus nomes e suas histórias, compartilhem suas caminhadas. Esse blog é um espaço de visibilidade importante e eu suplico sua participação. Mas também suplico que a irmã se organize para estar presente na assembléia da Convenção em janeiro próximo. Vamos até lá sem medo, mas vamos com ousadia. Ousadia profética e ousadia oriunda da certeza de que a nossa força vem do Senhor. Meu nome é Silvia. Meu sobrenome é Nogueira. Tenho nome e sobrenome. Sou pastora batista com um megafone nas mãos, debaixo da graça de Deus.


[1] Veja os links : http://www.pibrj.org.br/historia/arquivos/Tese-Alberto-Kenji-Yamabuchi.pdf e http://www.pibrj.org.br/historia/arquivos/UmaVozParadoxal.pdf

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ORDENAÇÃO AO MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO



As maiorias absolutas das Igrejas Batistas no Brasil já possuem algum tipo de Ministério específico exercido por Mulheres, elas estão presentes na área da Música (Ministras de Música) na área da Educação Cristã (Ministras de Educação religiosa) na área da ação social (Ministras de ação social ou serviço social) e outras.
Devido ao crescimento das Igrejas e diversificação do público a ela agregado foi necessário “compartilhar a função pastoral” de liderança nas diversas áreas, pois só assim todo o rebanho de Deus poderia ser alcançado por um ministério ágil e eficiente, daí porque vemos hoje a multiplicidade de ministros (homens e mulheres) auxiliando o ministério pastoral nas suas mais diversas funções na Igreja.
Quando fui convidado pelo presidente da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (Pr. Davi Baeta Mota) para discorrer sobre este tema, senti muito a vontade, pois creio que a questão da Ordenação Feminina ao Ministério Pastoral perpassa por alguns vieses importantíssimos que precisam ser considerados com muita seriedade:

1. Quem ordena ao Ministério ao meu sentir é a Igreja Local, e dentro do princípio Batista de autonomia da Igreja Local é a Igreja quem reconhece a liderança da pessoa que haverá de servi-la enquanto liderança espiritual (pastoral), portanto, não cabe ao meu ver a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil definir a questão da ordenação em si, esta questão pertence à Igreja Local. A ordem pode decidir se aceita ou não em seus quadros a presença da liderança pastoral feminina, o que não impede que ela exista por si mesma e nem que ela se organize como Ordem de Pastoras Batistas do Brasil.

2. Se considerarmos a Liderança pastoral como DOM ESPIRITUAL conforme preceitua a Bíblia em EFÉSIOS 4:11, então vamos Ter muitas dificuldades para respondermos alguns questionamentos em nossas Igrejas tais como: Os dons espirituais são para todos os crentes? Incluindo as mulheres? E se são, porque o Dom de pastor não se aplica às mulheres? E se os dons são para as mulheres, porque elas não podem exercer o Dom do pastorado? Questões como estas precisam ser consideradas com muita profundidade e coerência Bíblica.

3. Outro fato relevante que precisamos considerar é a histórica atuação das mulheres nos CAMPOS MISSIONÁRIOS. O que diferencia a atuação das nossas missionárias e dos pastores no campo de trabalho? Elas não fazem exatamente o papel de um pastor no campo missionário? Não pregam, não ensinam, não visitam, não coordenam todo trabalho, não orientam casais e etc...Porque não podem ser autorizadas pela Igreja local oficiar ceia, batismos, casamentos e etc...? Existem várias Igrejas de nossa denominação que já fazem isto há muito tempo, sejamos sinceros e honestos, nossas missionárias são pastoras de fato, e o povo que está sob a liderança delas, não as vê de outra maneira.

4. Precisamos reconhecer os diferentes níveis de liderança que a Bíblia estabelece, a luz da experiência que vivemos no dia a dia em nossa sociedade. Por exemplo: Quem é o líder na casa da Família Garotinho no Rio de Janeiro? Certamente como esposo o ex-governador exerce a sua liderança como “sacerdote do lar” mas secularmente falando a Governadora Rosinha Garotinho é a Líder, pois ocupa a função de Governadora de Estado. O Mesmo acontece numa casa onde os cônjuges são oficiais e o Oficial de maior graduação é a esposa, ela submete-se como esposa ao marido, mas ele submete-se a ela por ser oficial superior. Assim, não há ao nosso ver, nenhuma dificuldade das mulheres ocuparem a função de pastoras na Igreja de Jesus, pois estarão desempenhando uma função delegada pela Igreja que não choca em nada com a sua condição de esposa, caso esta seja casada.

5. Vemos Mulheres ocupando a função de liderança espiritual tanto no Velho Testamento como no Novo Testamento, o Novo testamento cita as filhas de Felipe como profetizas (Atos 21:9), em II REIS 22: 14 a 20 Hulda julgava o povo de Deus, e o sacerdote Hilquias vai até ela para buscar orientação de Deus. Se ele fosse um pastor iria até ela? Será que a ida do sacerdote até a profetiza Hulda diminuiu a sua postura como sacerdote de Deus? Encontramos também DÉBORA julgando o povo de Deus em JUÍZES 4:4 e 5, vemos que muitos anos antes de pensarmos numa mulher como pastora, as mulheres já exerciam posição de liderança na BÏBLIA, pois quem eram os juízes senão porta-vozes de Deus para o seu povo?

6. Percebemos nitidamente que a liderança feminina está conquistando fronteiras antes intransponíveis, pois nações ortodoxas, conservadoras como a ALEMANHA na Europa, o CHILE na América Latina, a LÍBIA no continente Africano, optaram recentemente pela liderança feminina como alternativa de nova visão política, como alternativa de percepção diferenciada da realidade, como possibilidade de mudanças, não podemos fechar os olhos para o que está acontecendo também em nossas Igrejas, quando é nítido que o número de Mulheres na membresia é bem maior que os homens, e o número de teólogas a cada dia aumenta, é visível e perceptível que a liderança feminina também vá conquistando o seu espaço junto ao ministério pastoral, ocupando talvez uma lacuna que existe há vários anos.

7. Um detalhe que me chama bastante a atenção é o número de pastoras que já existem nas diversas Igrejas evangélicas, pastoras solteiras e casadas, muitas delas estão em total sintonia com os esposos nos seus ministérios, atuam de maneira brilhante junto a membresia da Igreja e são um verdadeiro bálsamo para a vida dos pastores. É claro que nem toda esposa de pastor tem o Dom de pastorear, mas muitas destas esposas são “verdadeiras pastoras na Igreja”, e aí do pastor sem elas, algumas até já receberam o título honorífico de “pastora”, dado pela própria Igreja, que assim as chama carinhosamente em reconhecimento pelo seu talento, trabalho e dedicação. Creio que chegou a hora de assumirmos o que já existe na prática ha muito tempo!

8. Se perguntarmos aos membros de nossas Igrejas sobre a possibilidade da Ordenação Feminina, vamos ficar surpreendidos com as respostas, porque sem dúvida alguma a grande maioria do nosso povo já vê a atuação feminina na área da “liderança pastoral” no dia a dia das Igrejas e já reconhece que existem verdadeiras pastoras entre nós, só não tem o título...

9. Pastoras são essenciais? Claro que são, pois o campo está branco para a colheita. Vamos contrariar a Bíblia através desta prática? Ë claro que não, pois do contrário já estaríamos contrariando há muito tempo com a liderança pastoral exercida pelas missionárias. A Bíblia não condena a ordenação feminina, bem como não condena a consagração de diaconisas, não encontramos nomes de mulheres na lista de diáconos de Atos 6, mas entendemos que Febe servia a Igreja e por isso achamos que as irmãs também podem servir ao povo de Deus, o mesmo princípio também pode ser aplicado ao Ministério Pastoral, principalmente se consideramos o Ministério pastoral como uma chamada, um Dom vindo do Espírito Santo de Deus. O que você diria a sua filha se ela lhe dissesse: “Eu senti o chamado de Deus para ser pastora?”

10. Queridos irmãos Pastores o que mais nos ameaça nesta questão da ordenação feminina não é, ao meu ver, a questão Bíblica – teológica, nem é a questão cultural – religiosa, o que mais nos ameaça nesta questão: é o medo que temos de dividir a liderança com alguém, o medo de alguém ocupar o nosso espaço, de alguém nos superar em nossos “ministérios brilhantes e fascinantes”. Enquanto este sentimento perdurar em nossos corações, não haverá abertura para considerarmos a questão da Ordenação Feminina. Reflita sobre isto.



Pr. Evaldo Carlos dos Santos
PIB da Praia da Costa
Vila Velha - ES
  Disponível em http://groups.google.com/group/Mensageirosdapaz?hl=pt-BR.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Três quartos dos líderes evangélicos mundiais admitem mulheres no ministério pastoral

(Colaboração do Pr. Sylvio Macri)

Matéria reproduzida no site Baptists Today menciona o resultado surpreendente  de uma pesquisa realizada com os 4.500 líderes evangélicos mundiais que participaram do Terceiro Congresso de Lausanne, realizado na África do Sul em outubro de 2010:  75% desses líderes acham que as mulheres podem ser admitidas no ministério pastoral, contra apenas 20% que acham que não.

Responderam à pesquisa, cujos resultados foram divulgados recentemente, 2.196 dos líderes participantes, provenientes de 166 países e territórios, assim distribuídos: 20% da Europa, 19% da América do Norte, 26% da África Sub-Saariana, 3% do Oriente Médio e do Norte da África,  10% da América do Sul e 21% da Ásia e do Pacífico. De cada dez participantes do Congresso, 6 pertenciam ao Hemisfério Sul, e 4 ao Hemisfério Norte. O universo dos respondentes é amplamente representativo de todas as igrejas evangélicas do mundo, em termos de região, gênero, idade e tipo de organização.

A pesquisa foi promovida pelo  famoso Pew Research Center, de Washington, DC, EUA, através do projeto The Pew Forum on Religion and Public Life, e está disponível no site www.pewforum.org,  sob o título “Global Survey of Evangelical Protestant Leaders”, um texto de 118 páginas.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

COMO UMA IGREJA PODE CONSAGRAR UMA PASTORA APESAR DA BLINDAGEM DA OPBB

Depois da Assembleia da OPBB em Florianópolis, SC, em 2007, A Ordem tomou algumas decisões que blindaram o caminho das mulheres vocacionadas, não somente para o seu ingresso na OPBB, como também, mais grave ainda, para a sua consagração ao ministério pastoral por uma igreja local.

Em que consiste essa blindagem da OPBB?

1. A OPBB decidiu que a emissão das carteiras dos pastores seria pela sua administração nacional, o que chamarei aqui de OPBB nacional. Até então as OPBBs estaduais/regionais emitiam as carteiras. Assim, foi possível as pastoras filiarem-se à OPBB naquelas secções que aceitavam pastoras. São essas pastoras que hoje podem ter a carteira da Ordem porque tiveram seus direitos adquiridos reconhecidos pela assembleia da OPBB em Cuiabá, em 2010. Hoje isso não é mais possível, inclusive nos locais onde as secções aceitam pastoras.

2. A OPBB proibiu as suas secções de participarem do concílio de pastoras, com o risco de que seus executivos fossem encaminhados para a comissão de ética. O que isso significa na prática? Os executivos das secções fizeram a leitura, conveniente, de que os pastores não poderiam participar de concílio de pastoras e não a instituição, isto é, a secção oficialmente. Então eles orientam os seus pastores a não participarem e alguns até os ameaçam de os conduzirem à “inquisição”, digo, as comissões de ética da Ordem.

3. A orientação da OPBB é que as igrejas, quando decidem consagrar um candidato, peçam à secção da Ordem a organização do concílio. Então o que acontece? As igrejas quando querem ordenar uma pastora solicitam a participação da secção da Ordem que, ainda que concorde com a ordenação de pastoras, está proibida de examinar candidatas. Isso significa que os concílios de mulheres estão suspensos em muitos lugares do país aguardando a decisão da Ordem.

4. A OPBB insiste em não mencionar as pastoras em suas publicações, estatísticas e convocações. A justificativa é que as pastoras serão tratadas da mesma forma que os pastores. Como assim? Se fosse assim, se as pastoras fossem tratadas da mesma forma que os pastores, todas poderiam ingressar na Ordem. Insistir em não usar linguagem inclusiva, em não registrar a presença das pastoras é uma manobra para ignorar a presença e contribuição do ministério pastoral feminino na obra batista e retardar a decisão do ingresso das pastoras. Na última Assembleia, em Niterói 2011, a OPBB nacional retirou no vídeo que foi vendido da mensagem oficial, o trecho em que o Pr. Carlito Paes falava de pastoras e não permitiram que no Regimento o termo “pastora” fosse inserido. A linguagem inclusiva é necessária neste momento.

O que igrejas e mulheres vocacionadas ao ministério pastoral podem fazer:

1. Apesar de entendermos o cuidado da Ordem com a qualidade do ministério pastoral batista, a ordenação de candidatos ao ministério pastoral é decisão da igreja, que é autônoma para assim fazer. Então, se a secção não quer participar do Concílio, a igreja mesmo pode promovê-lo sem que com isso esteja infringindo normas e ela não pode ser ameaçada por isso, isto é, de que será excluída da Convenção e etc. Isso não acontecerá.

2. Os pastores são livres para participar de concílios de pastoras. Não há, e nem poderia haver, nenhuma decisão da CBB ou OPBB que proíba um pastor de participar do concílio de uma pastora. Quem está proibida é a secção da OPBB como instituição e não os pastores que são livres, como realmente têm que ser. Então a igreja deve fazer os convites particularmente a cada pastor que ela deseja que esteja no concílio e esclarecer o que for necessário.

3. A CBB, em parecer aprovado em diversas assembleias, reconhece que a ordenação de pastoras é uma decisão da igreja local. Isto é, se uma igreja quer ordenar uma mulher para o ministério pastoral ela é livre para assim fazer, sem que esteja infringindo nenhuma norma ou esteja deixando de ser uma igreja batista como é o argumento ameaçador em muitos lugares do Brasil. A única questão é que esta pastora, por enquanto, não será filiada à OPBB, que ainda não aceita pastoras.

4. Se possível, quando for ordenar uma pastora, a igreja deve observar os critérios estabelecidos pela OPBB e CBB. A CBB tem publicado um livreto que dá todas as orientações. Para ser filiada à OPBB no futuro, caso queira, a pastora precisará estar com seu processo em acordo com as orientações, inclusive a ata do concílio assinada por sete pastores que tenham registro da OPBB. Então, quando possível, seria bom que os documentos estivessem de acordo com as normas estabelecidas pela CBB e OPBB para um futuro ingresso na OPBB.

Já temos mais de 100 pastoras nas igrejas das CBB e muitas candidatas esperando o momento que julgam oportuno, isto é, esperam a aprovação pela OPBB da filiação de pastoras, na maioria dos casos porque suas igrejas e seus pastores não querem causar nenhum constrangimento com as OPBBs regionais/estaduais. Infelizmente, a OPBB nacional se prevalece do respeito e consideração das igrejas para protelar essa decisão e querer impor preconceitos, com roupagem de interpretação bíblica, no ministério pastoral batista.

Que igrejas, pastores e mulheres chamadas por Deus sejam corajosos neste tempo para fazer prevalecer a vontade de Deus. Que rompam barreiras, fortalezas e obedeçam a vontade de Deus

(Pastora Zenilda Reggiani Cintra, maio/2011, , http://pastorazenilda.blogspot.com/ )

domingo, 12 de junho de 2011

Discernimento e Espiritualidade: O Pastor(a) como artesão(ã) das temporalidades

   Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus. Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho; E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós. Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário.Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estão comigo, estas mãos me serviram.Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” (Atos 20:24-35)
            A luz do texto acima somos levados a refletir sobre o real significado e abrangência do ministério pastoral. Muitos são os desafios e possibilidades que surgem na caminhada daqueles(as) que são chamados por Cristo a exercerem sua vocação pastoral em um mundo cada vez mais cheio de crises, dúvidas, medos e incertezas. È justamente neste contexto que o apóstolo Paulo se depara ao ter que anunciar sua partida e deixar aquelas pessoas tão amadas por ele.
            A história é algo que me fascina porque ela é construída junto com o tempo, através do tempo e para um determinado tempo. Ainda que o texto bíblico tenha sido produzido em um tempo específico, o mesmo nos deixa diretrizes que rompem com as barreiras culturais da época e nos alcançam na medida em que homens e mulheres se permitem mergulhar nas escrituras e as deixam falar por si mesmas.
            Em nossa jornada ministerial, muitas vezes nos sentimos como se estivéssemos sempre de partida e nos despedindo de quem mais amamos. Entretanto, muito mais do que a partida, considero a caminhada mais significativa neste processo de construção do ser pastor(a). O ser pastor(a) não se aprende nos bancos das cátedras, nas torres de marfim ou nos monastérios isolados do mundo e dos relacionamentos. Muito mais do que a titularidade, eu quero a simplicidade da espiritualidade do Cristo encarnado. Simplicidade do qual muitos tem perdido em sua jornada ministerial. Que sigamos os preceitos de Paulo neste texto se de fato encaramos o ministério pastoral como uma expressão do cuidado de Deus por seu povo.
            Em um mundo que gradativamente tem perdido seus valores e que apregoa que não há nada em que se confiar, temos o desafio de continuar pregando a Palavra de Deus. Numa geração analfabeta das Escrituras, que vive em busca de revelações, profetas e ungidos, Deus  continua chamando homens e mulheres para permanecermos firmes em sua palavra e não nos tornarmos vendilhões do templo.
            O ser pastor(a) precisa ser conduzido com destreza e escrito nas entrelinhas de cada folha em branco que recebemos de Deus. O que dá sentido em uma frase são os espaços existentes entre elas. Se compreendermos que somos chamados para servir e não para nos tornarmos messias, ainda que as turbulências pastorais surjam e elas aparecem mesmo, entenderemos que no seguimento de Cristo somos coadjuvantes e não protagonistas do Reino de Deus. Precisamos tecer nosso ministério arraigado em Cristo e na sua revelação para desenvolvermos à pastoral com dignidade, temor, graça, misericórdia e sensibilidade. A paz para todos e todas que são comissionados(as) por aquele que amou primeiro. Shalom!
                                                                                                         Marco Antônio
                                                                                            “Reforma sempre reformando”

segunda-feira, 6 de junho de 2011

DIA DO(A) PASTOR(A) - CREDO DE UMA PASTORA

Pra. Silvia Nogueira

Pra. Silvia ministrando a Ceia do Senhor
Nunca é um tempo fácil ou bom para ser igreja no sentido mais rico dessa palavra. No entanto, sabemos que é o tempo presente o lugar da nossa experiência religiosa e, este tempo, em particular, tem seus ímpares desafios para quem se diz cristão. Por que? porque o homem mudou. E a “casa” onde ele mora também. As pessoas olham para a religião com desconfiança, com arrogância, com desespero e, somente alguns poucos, a consideram como algo bom (e útil) para o indivíduoe para a sociedade. E é em meio à desconfiança na religião, ao esvaziamento do valor de viver em comunidade, ao estabelecimento de uma “religião” do mercado, que somos convocados(as) – e acreditamos que o Sagrado ainda tem interesse no trabalho conjunto conosco – a viver a vocação para a vida religiosa.
Nós, que abraçamos a vocação pastoral, escutamos muitas vezes sobre a dificuldade dos nossos ministérios. Alardeiam uma quantidade significativa de vozes sobre o “peso” que existe em cuidar saudavelmente de vidas e em lidar com a fé de irmãos e irmãs. Enfatizam o sacrifício pessoal em detrimento aos desejos e sonhos da comunidade que muitos de nós realmente realiza. No próximo domingo, celebraremos o dia do pastor(a) e podemos correr o risco de concentrar nossa reflexão nesse aspecto de nossa caminhada. Sem dúvida, o seguimento do Cristo é desafiador e cheio de turbulências como ele mesmo aponta no final das bem-aventuranças: Bem aventurados sois vós se vos perseguirem e vos injuriarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa...Mt 5, 11 , ou ainda o comentário do pregador e pastor Paulo, a respeito do ministério: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação que nós mesmos somos consolados de Deus. 2Co 1,3-4. Ministério pastoral é realmente desafiador, mas também é algo maravilhoso.
E é no “maravilhoso” que devemos fixar os olhos, abrir os ouvidos e apaziguar o coração. Quando dizemos sim para a vocação que Deus nos oferece, Ele vai nos dando os instrumentos de superação para cada etapa da nossa caminhada. Creio tão fortemente nisso! Creio que faz parte da vocação não saber tudo, nem enxergar tudo e, no entanto, caminhar em direção àquilo que Deus quer para cada um de nós, como indivíduos únicos. Creio que Deus usa a boca dos pequeninos para moderar nossa arrogante sabedoria. Creio que sempre quando nosso afeto e solidariedade com aqueles que sofrem está em baixa, Deus volta a nos comover. Creio, ainda, que é por causa de Jesus, Supremo Pastor, que quando somos fracos aí é que somos fortes.
Um abençoado dia do Pastor(a).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dai a Cesar o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus

Existem algumas questões que nos deixam perplexos e pensativos quanto à forma de enfrentamento e de resposta. Principalmente, aquelas que são elaboradas, especialmente, para nos apanhar em uma armadilha. Das questões difíceis, me recordo de uma elaborada para Jesus e me deleito na resposta dada pelo Mestre e no rico ensinamento que nos deixou.
 “Daí, pois, a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”, foi a sábia resposta de Jesus quando foi questionado se os fariseus e os herodianos deviam pagar ou não tributo a Cesar. A sutil pergunta dos adversários de Jesus era certamente uma tentativa para apanhá-lo em uma armadilha. Daquelas que parecem impossível de responder sem correr riscos. No entanto, a resposta sábia de Jesus é uma resultante da percepção da hipocrisia humana e da firmeza que tinha diante dos belos discursos dos seus adversários. É da prática diária dos adversários que veio a reposta para suas indagações.
Assim, o Mestre Jesus ensinou que pagassem tributo ao governo romano, já que eles mesmos usavam esta moeda e, portanto, estava sujeitos à tributação; e ainda ensinou que prestassem obediência a Deus. Em outras palavras: cumpram suas obrigações civis para com César e cumpram suas obrigações para com Deus. Sabemos que este ensino se constitui um princípio para nós, os batistas.
É dever do Estado, como laico, garantir a promoção do bem-estar público, e dentre outras coisas, o pleno gozo e exercício da liberdade religiosa; é dever da igreja, enquanto comunidade livre, respeitar às suas leis, obedecê-las, honrar os poderes constituídos, exceto naquilo que se oponha à vontade de Deus (art. XV da DDB).
Este princípio também nos notabiliza enquanto batistas, juntamente com a certeza de que não deve existir nenhum poder que possa constranger a igreja local, que é autônoma e democrática, nas suas decisões, a não ser a vontade de Deus, manifestada através do seu Espírito.
Esta reflexão é pertinente para pensar as exigências que a OPBB vem fazendo quanto à formação de concílios para o ministério pastoral. Os critérios de elegibilidade ao concílio, naturalmente, nos levam a questionar: de onde vem a OPBB? Para que ela foi criada? Qual é o caráter da sua atuação? A quem serve? É de Cesar ou é de Deus? É ordem a que custo?
Entendemos que os concílios representam o exame dos pontos principais da fé e das doutrinas que o candidato ou a candidata julga professar, diante de pastores ou pastoras de diversas igrejas batistas que tem por princípio a cooperação entre as igrejas irmãs; e a ordenação é o reconhecimento da igreja que entende e percebe o chamado ao Ministério do Serviço e ainda, a culminância de um processo que a igreja local mesma iniciou, enviando o (a) candidato (a) às instituições batistas teológicas para o estudo e preparo.
A OPBB surge da livre associação de pastores das igrejas batistas, com vistas à expansão do evangelho através da ampla articulação dos pastores. A lógica e o bom senso nos dizem que se a OPBB surge das igrejas, logo deve também servi-las e, assim servirão ao Supremo Pastor, o Cristo, Senhor das vocações. Assim, deve a OPBB respeitar esta ordem: Senhorio de Cristo e a autonomia das igrejas em instituir seus processos de exame e legitimação ao ministério da Palavra, seja de homens, seja de mulheres.
Portanto, supliquemos a Deus a sabedoria que residia em abundância no precioso Cristo. Prossigamos no seu ensino de entregar a Cesar o que é de Cesar: os impostos, o respeito, as orações pelas autoridades, os deveres e responsabilidades de cidadãos; e de entregar a Deus o que é de Deus: a vocação, o serviço e o livre exercício dos dons na igreja. E não devamos nada a ninguém, a não ser o amor mútuo.
“Portanto, o que quereis que os homens vos façam, fazei vós também”.

Pra. Cristiane Queiroz Cravalho
IB Central Honório Gurgel

Mulheres, sensibilidade e liberdade!

            O mundo mudou! Vão dizer as pessoas numa conversa descontraída e informal. Porém, para muitos esta expressão tem muitos significados e paradigmas que ainda teimam em pairar sobre nossas cabeças em pleno século XXI. Toda mudança nos leva a movimentos e transições que invariavelmente geram desconstruções, quebras de mitos e barreiras impostas por segmentos dominadores. E ao longo da história percebemos o quanto algumas “verdades” costumam retornar para perpetuar a lógica do opressor em vários segmentos da sociedade.
            Em cada época somos desafiados a fazer algumas releituras de mundo a partir de uma ótica libertária e progressista para o nosso tempo. Ao folhearmos as páginas do A.T e do N.T encontramos em vários momentos, Deus falando ao seu povo através dos profetas sobre como deveríam buscá-lo e adorá-lo baseado não em mitos ou fábulas inventadas por homens, mas na revelação divina.  Se observarmos atentamente os textos bíblicos, encontraremos uma mensagem de libertação dos cativos em um mundo onde o engano, as injustiças, a opressão e a dominação imperavam sob a égide da moral e da ética.
            Os tempos são outros hoje! Entretanto, esquecemo-nos que apesar das sociedades mudarem, o ser humano continua o mesmo desde sua queda. Mesmo que nossa natureza decaída realize coisas maravilhosas devido à imagem de Deus permanecer em nós, continuamos construindo relacionamentos estruturados em poder, ganância, dominação, medo e alienação. Em decorrência disto, vemos em nossas igrejas uma leitura bíblica de gênero muito machista em nossas comunidades de fé. Quem nunca ouviu de muitos púlpitos a expressão “o marido é o cabeça da mulher”? E que a mulher deve ser submissa ao homem? Se o homem é o cabeça a mulher é o pescoço? Estas falas durante muitos anos têm gerado mais divisões e confusões no seio da igreja do que qualquer outra passagem bíblica.
            De fato o mundo mudou! E graças a Deus por isso ter acontecido e continuar a acontecer. Uma compreensão inadequada desta passagem bíblica tem gerado questionamentos e constrangimentos em muitas famílias cristãs, e deixado muitas mulheres oprimidas por seus maridos em nossas igrejas. Quantas não são aquelas que no silenciar de sua voz tem se fechado para o mundo e para um aprofundamento espiritual na presença de Deus? Desconstruir mitos, quebrar paradigmas sempre foi algo visível no ministério de Jesus. Observamos isto no seu diálogo com a mulher samaritana, no fato de muitas mulheres o seguirem e de mulheres terem sido as primeiras ao encontrarem o túmulo vazio. Estes relatos nos mostram que a liberdade chegou à vida das mulheres também e que elas são participantes do derramamento do Espírito Santo capacitando-as para ministrarem no seu reino.
            Ao lermos o texto de Efésios 5:22-33 somos incitados a pensar que o apóstolo Paulo era alguém machista; devido o texto dizer: “mulheres sejam submissas aos seus maridos”. A grande dificuldade aqui é que geralmente começamos a interpretação do texto a partir do verso 22 em diante. Porém, antes de Paulo falar sobre a submissão da mulher, ele diz: “sujeitem-se uns aos outros”. Isto significa dizer que os maridos devem sujeitar-se as suas esposas de igual modo as esposas aos seus maridos. Não há diferenças.
            Infelizmente, muitos cristãos não conseguem enxergar esta riqueza do texto bíblico e criam uma dificuldade nos relacionamentos conjugais em virtude dos seus papéis. Somos uma cultura machista e com vários ranços patriarcais e por isso somos tendenciosos a distorcer palavra de Deus em benefício dos dominadores que tentam silenciar as vozes femininas que ecoam ardentemente de seus corações.
            Construímos uma interpretação bíblica literalista e alicerçada na temporalidade da queda do homem e da mulher e nos esquecemos da obra redentora da Cruz onde não há hierarquização dos papéis e sim uma verticalização que se complementam numa só carne. Somos nova criação de Deus e nesta nova humanidade redimida por Cristo as mulheres são participantes da mesa do Senhor e vivificadas pelo mesmo Espírito que atua nos homens. Na lógica do reino de Deus a união mística que ocorre no casamento, não deve haver mais dois, apenas um, não deve haver hierarquias, mas complementaridades, não mais sexo, mas conjugalidade, ternura, amor e unidade.
            Entendamos que a relação entre marido-mulher deve ser em comparação como a de Cristo-igreja. Como a igreja está sujeita a Cristo? Esta é a pergunta chave para entendermos como marido-mulher deve vivenciar seu matrimônio. Neste relacionamento deve haver: iniciativa, voluntariedade, fidelidade, abnegação, gozo e alegria. Nada que lembre constrangimento, contrariedade, amargura, subserviência, servilidade, rancor ou ódio. Um se submete ao outro como ao Senhor. Mulheres sejam livres em nome de Jesus!
                                                                                                                                                                                            Marco Antônio Pereira Manoel Carvalho
Casado com a Pra. Cristiane Queiroz de Carvalho .Formado em Teologia pela Faterj, Pós-graduando em Ciências da Religião na mesma instituição e graduando em História na Unigranrio. Membro da Igreja Batista Central de Honório Gurgel. Líder do ministério de ensino nesta igreja. Um eterno aprendiz do seguimento de Jesus. Um servo que acredita no binômio reforma e carisma para os dias atuais para comunicarmos a mensagem do evangelho em sua totalidade e produzir vida, amor, graça, justiça e perdão onde o oposto destes elementos do reino de Deus não estiverem sendo evidenciados. Chamado por Deus para pastorear vidas e conduzir todos quantos o Mestre enviar ao conhecimento do Cristo ressurreto para homens e mulheres. “Reforma sempre reformando”.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pastora Elizabete Carvalho Teófilo

Do Blog: Aos Mestres

Pra. Elisabete no Conselho da CBB
Nascida no interior do Ceará, no dia 23 de maio de 1964, tem 13 irmãos, aprendendo desde cedo a compartilhar e se importar com os outros. Venceu a fome e a miséria da infância.
Pastora há quase 12 anos, está na Igreja Batista Esperança, em Fortaleza-CE, e exerce ministério pastoral na mesma igreja há 13 anos. Lembro-me como se fosse hoje o dia em que fomos comunicados na IBE que a nossa pastora estava autorizada a batizar, celebrar casamentos e ministrar ceias. Isso muito tempo depois de ter começado o pastoreio. Ela cursou teologia no Seminário Teológico Batista do Ceará, e no seu último ano, estava grávida do seu filho mais novo, Thiago. Isso reforça em mim a certeza da garra e compromisso com a obra e o chamado do Senhor. 
Na obediência ao chamado que o Senhor me fez, vim para o STBNB- Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Tenho tido a oportunidade de ver várias mulheres cheias de Deus, com a certeza do seu chamado se amedrontarem diante da inegável participação masculina nos ministérios pastorais batistas brasileiros. Muitas delas fazem teologia pensando em ser missionárias ou educadoras cristãs, porque poucas aceitam o desafio do ministério pastoral.
Nas palavras da Pra. Zenilda em seu blog, referente ao encontro das pastoras, sabemos mais sobre a Pra Elizabete: [...]Quando cheguei à Brasília, a primeira que encontrei foi Elizabete, vinda do Ceará. Abraçamo-nos, rimos, ficamos emocionadas. Ela me agradeceu porque achou que o Encontro trouxe dignidade para as pastoras. Ela é alegre, gentil, mas firme e convicta do respeito e acolhimento que nossa denominação deveria ter por suas pastoras. 

Polêmicas...

Sendo a 1ª pastora batista do Ceará, por consequência a 1ª do Nordeste e a 2ª do Brasil - a 1ª pastora do Brasil é a Sílvia Nogueira -, causou desconforto por ter um ministério forte e estável e o título de pastora, o que não era(é) aceito por todos os pastores da mesma forma que eles são aceitos por serem homens. Diga-se de passagem que as mulheres só foram autorizadas pela Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB) a emitirem as carteiras de pastoras inscritas no ano de 2010, em Cuiabá. *
O ano de 2008 foi marcado na CIBUC- Convenção das Igrejas Batistas Unidas do Ceará- pela escolha dos pastores em eleger a Pra Elizabete como sua representante, vindo a ser a 1ª pastora a estar na conselho da CBB, em janeiro de 2009, em Brasília. Veja no blog do edvar o post:
primeira pastora no conselho da cbb.
A pastora Elizabete Carvalho Teófilo é a grande Mestra desse post. Ela é uma pastora por vocação, não por título ou por status. Ser pastora é o que ela é, não simplesmente o resultado de um estudo de 4 anos num seminário. Tenho o privilégio de ter essa grande mulher como mãe. Aprendi a amar e respeitar o seu ministério, visto que ser filha de pastora ou pastor é também fazer parte dos seus ministérios. Hoje, na construção do meu ministério, ela tem sido minha parceira, ajudadora, intercessora e mantenedora. 
Espero que vcs se inspirem na trajetória dessa guerreira. Ela é o orgulho da IBE. Defensora da restauração da alma -REVER, contadora de piadas, verdadeira, honesta, cristã e serva, acima de tudo. Mãe do Iago, Luciana, Thiago e Nilda, sogra da Ana Paula, avó postiça do João Paulo, esposa do Luciano... é a menina dos meus olhos!
* A OPBB emitiu carteiras somente para as pastoras ordenadas até janeiro de 2007, que pertenciam a seções que aceitavam pastoras e que tiveram suas carteiras cassadas. A OPBB em Cuiabá corrigiu este erro, mas a OPBB não aceita em seu quadro as demais pastoras. Temos hoje mais de 100 pastoras pelo Brasil.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A (des)NECESSÁRIA ORDEM

Pra. Silvia Nogueira

O que representa para as pastoras o pertencimento à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil diante de tantas questões e tarefas mais necessárias e urgentes? Essa é uma pergunta que ouço com certa constância. E, de fato, diante do cotidiano desafio missionário, do cuidado pastoral com pessoas sob nossa responsabilidade na comunidade, diante da vivência cristã relevante no mundo, das respostas evangélicas às tensões do nosso tempo e das desastrosas consequências sociais da  degradação do planeta, o pertencimento a OPBB é uma questão menor.  No entanto, é algo que tem se constituído de uma forma que não é mais possível ignorar como uma necessidade na relação igreja batista-vocacionado-CBB. Para ser clara, colocarei os “poderes” em seus devidos lugares.
Primeiro,  ninguém – e é ninguém mesmo- pode arbitrar se uma pessoa, mulher ou homem, recebeu um dom do Espírito Santo, já que para os puristas está escrito literalmente que o Espírito Santo o faz como quer, a quem quer[1]. Isso por si só deveria encerrar qualquer discussão sobre essa questão, mas por séculos não tem sido esse o sábio caminho.
Segundo, no caso dos batistas brasileiros, se por um lado não se pode arbitrar sobre a quem Deus dá ou não dá dons, por outro, podemos e devemos reconhecer a vocação de uma pessoa, mulher ou homem, na vivência comunitária. Sim, porque é para servir em ministério eclesiástico que o Espírito Santo confere dons. Logo, a igreja deve reconhecer a vocação alegada pelo irmão ou irmã. Eis aí uma das mais belas manifestações da coletividade evangélica, já que é ela quem reconhece, legitima, abriga e mobiliza o ministério do vocacionado(a). Nisso repousa minha crença inabalável de que o pastorado batista é legitimado não por pastores, mas por igrejas. Daí a nulidade de uma carteira da ordem de pastores para ser pastor(a) e exercer o ministério.
Terceiro, para os mais preocupados com a tradição denominacional, é importante compreender que a CBB, na pessoa de sua diretoria e executivos, e mais, a assembleia da CBB, jamais fará coisa alguma que desabone a soberania e autonomia das igrejas locais, sobretudo, na questão dos ministérios ordenados. Então, se alguém espera um comunicado oficial, através de uma espécie de decreto para que a partir da data tal as igrejas filiadas possam ordenar mulheres ao ministério pastoral, vai ficar esperando ou se resguardando de agir nessa espera.
E a Ordem, como ela fica nessa relação Igreja-vocacionado(a)-CBB? Acredito que essa é a pergunta do momento. A Ordem não é um sindicato de profissionais do ministério pastoral batista, ela não é uma representação das igrejas batistas, já que muitos pastores e quase a totalidade das pastoras não são filiados à ela[2]. O que ela é, ou melhor, tem sido?  Uma convidada das igrejas para participar de um momento sempre emocionante nessa relação Igreja-vocacionado(a). Percebam que não entro no mérito do porquê a atual ordem é resistente (a maioria simples, mas não unânime)[3] e proíba novas filiações de pastoras. O que na verdade faz com que o pertencimento das pastoras à Ordem se transforme em uma necessidade histórica da qual é importante um aggiornamento? porque esse grupo de cavalheiros tem se interposto negativamente na relação Igreja -vocacionado(a)-CBB. Quando uma igreja batista filiada à CBB convoca um concílio e, segundo sua tradição, e não por necessidade[4], quer seguir as recomendações da CBB[5] e emite um convite à Ordem ela aguarda ser atendida. No entanto, tem havido uma recomendação, se oficial, não sei, com “ameaça”, de que tipo, não sei, que tem impedido os filiados de atenderem tranqüilamente ao convite das igrejas. E mais, quando para a Ordem somente é pastor batista quem possui uma carteira da Ordem e, ao mesmo tempo, desencoraja, para dizer o mínimo, os seus filiados a atender a convocação da igreja, ela deliberadamente se interpõe nessa relação. Em resumo, a ordem tem dificultado, até em muitos casos, inviabilizado, o exame tradicional recomendado pela CBB de candidatas ao ministério da Palavra.  Ou seja, a OPBB, lamentavelmente, está interferindo no exercício sagrado da vocação. Quem fez com que a filiação à Ordem se transformasse, portanto, em uma necessidade para as pastoras foi a própria ordem. Logo, se é uma necessidade, bateremos insistentemente, até que a porta abra[6]. A ordenação feminina, como todo processo histórico segue, tem etapas e é preciso cumprí-las. A de agora, diz respeito à visibilidade institucional necessária as vocações despertadas e assumidas publicamente há 11 anos. Caso não haja um reposicionamento da Ordem em aceitar o ingresso e a liberação dos filiados na participação conciliar quando convidados pelas igrejas, não significará um retrocesso no avanço das ordenações femininas no Brasil Batista. Graças a Deus, o processo não é visível nos meios oficiais, mas é pujante e irreversível. A Ordem chega atrasada nesse processo no qual ela é coadjuvante por tradição, mas que diz respeito especialmente e legitimamente a Deus-vocacionado(a)-Igreja. O que esperamos dela, sobretudo a partir de sua diretoria e executivo, é que acolha mulheres e homens a quem Deus chamou e igrejas batistas reconheceram em suas vocações. Gentil, mas firmemente, lhes peço, revejam a decisão de Cuiabá e preparem-se para realmente dialogar como colegas de ministério que somos.






[1] Mesmo com a discussão bíblica superada, vale a pena observar o texto de 1Co 12 e 13 em confronto com 1Co 14,34-37. É importante, ainda, apontar para uma necessidade urgente de retificar o texto da Declaração doutrinária da CBB no item Ministério da Palavra. A presença da frase “Deus escolhe, chama ...certos homens...” , provoca confusão interpretativa do texto bíblico acima. O correto seria o que apresenta o sumário do livreto “Exame e consagração ao ministério pastoral” que diz: “exame da pessoa candidata”.
[2] Segundo o executivo da ordem de pastores Batistas do Brasil, Pr. Juracy Baía, existem 9400 pastores cadastrados, em 2010, sem contar as mais de 130 pastoras, mas o número de filiados com carteira são 8300. Resumindo, há mais de 1230 pastores batistas que não são filiados à ordem.  
[3] Existe um grupo significativo de pastores que entende da mesma forma que nós, pastoras, o papel da Ordem e que estão dispostos ao dialogo e ao ingresso de suas colegas. O que temos percebido, salvo engano, é que as diretorias ao longo do caminho, cristalizaram o seu pensamento e não estão realmente dispostas a permitir novos ingressos. E é essa diretoria que tem fomentado um discurso de divisão, seja se não forem prestigiados em suas convicções pelos seus pares, seja na proposta absurda de criação de uma ordem de pastoras.
[4] Segundo o 2ºparágrafo da pagina 11 do livreto exame e consagração ao ministério pastoral. E ainda, na pagina 12: “As igrejas filiadas à CBB decidem, através destas recomendações, seguir princípios que estimulem os melhores procedimentos na realização de concílios”. SOUZA, Sócrates(org.). Exame e consagração ao ministério pastoral. Rio de Janeiro:Convicção, 2009.
[5] As recomendações, segundo o mesmo texto, entre outros quesitos, são o convite à Ordem e a presença de pastores filiados.
[6] A porta dos fundos, das laterais ou da frente, contanto, que abra.